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Artigos > O Monero, ou como aprender esperanto com uma moeda criptográfica

por Alexis Ulrich  LinkedIn

Um mundo, um idioma, uma moeda (Unu mondo, unu lingvo, unu mono).
Este slogan de universalidade em esperanto gravado no anverso das moedas de um stelo de 1959 expressa a unidade procurada pelos esperantistas na promoção deste idioma auxiliar internacional cuja história começa no início do século XX. Várias moedas esperantistas já existiram, e a recente criação duma moeda criptográfica com um nome evocativo, o monero, mostra como é fácil criar palavras em esperanto graças ao sistema de afixos desta língua ainda relevante.

O spesmilo

Moeda de um spesmilo

A primeira moeda esperantista foi o spesmilo, proposto em maio de 1907 pelo suíço René de Saussure. Com um valor de 0,733 gramas de ouro fino, no momento, 50 centavos de dólar norte-americano, ou 2 xelins britânico de ouro, um spesmilo divide-se em 1 000 spesoj. A palavra spesmilo significa além disso «mil spesoj», o speso sendo a unidade básica. Moedas de um spemilo e de dois spesmiloj foram cunhadas pela empresa suiça Holy Frères para ser apresentadas ao Congresso Universal de Esperanto de Berna em 1913. Nessa ocasião, uma moeda de ouro de 50 spesmiloj foi oferecida ao Ludwik Lejzer Zamenhof, criador do esperanto.

Em 1907, o alemão Herbert F. Höveler funda o Ĉekbanko esperantista, banco esperantisto de cheques. Baseado em Londres com filiais em Dresden e Moscou, permite passar cheques expressos em spesmiloj, amplamente utilizados pela comunidade esperantista da época. O 30 de abril de 1914, o banco conta com 730 contas distribuídas em 320 cidades e 43 países. Infelizmente, é liquidada à morte do Höveler em 1918, nenhum sucessor querendo assegurar a sucessão dele.

O projeto volta à vida em 1927, quando o Dreves Uitterdijk e o J. Hengel fundem o Universala Spesmila Banko, ou Banco Universal Spesmila, em Laren, nos Países Baixos. Vários bilhetes em spesmiloj são criados, a moeda sempre sendo conversível em ouro, mas o projeto colapsa no início dos anos 30.

O stelo

Moeda de 25 steloj

Uma segunda moeda nasce em 1959: o stelo, ou «estrela» em esperanto. Criada pela Universala Ligo, ou Liga Universal, uma organização com base nos Países Baixos, começa sob a forma de cupons dum valor de 1 stelo, em seguida 10 000 moedas de 1 stelo de bronze são cunhadas en 1959, bem como 10 000 moedas de 5 steloj de latão y 10 000 moedas de 10 steloj de cuproníquel. São seguidas em 1965 por moedas de 25 steloj (1 000 exemplares de cuproníquel, 5 000 de prata e 10 de ouro). Se essas moedas têm um valor numismático certo, é difícil saber se foram realmente usadas como moeda. Podemos em vez considerá-las como medalhas de lembrancinhas ou fichas.

Ficha de 1 stelo

Na década 2010, fichas de plástico de 1, 3 e 10 steloj são usados durante eventos esperantistas. No anverso da moeda de 10 steloj há um crocodilo, jogo de palavras em esperanto desde que «krokodili» significa «falar numa língua nacional», o que geralmente acontece depois de algumas bebidas, que estão bebidas em bares que servem bebidas não alcoólicas, ou «gufujo» (de guf, bufo-real, e ujo, ninho). No anverso da moeda de 1 stelo fica um bufo-real. Quanto à da moeda de 3 steloj, está decorado com um papagaio, um pássaro que fala muito. Essas moedas são gerenciadas por um conselho chamado Stelaro quem define a valor delas. Em abril de 2017, a cotação do stelo era cerca de 0,24 euros.

Moedas de 100 steloj

Pelo 150o aniversário do nascimento do René de Saussure, o Walter Klag, esperantista austríaco, faz cunhar pela Casa da Moeda Austríaca 1 000 exemplares duma moeda de prata de uma onça, de um valor nominal de 100 steloj.
Estas moedas ainda estão disponíveis para venda: mais informações em alemão (pdf) e em esperanto (pdf).

O mono

Bilhete de 100 Monoj

Em 2008, o artista franco-dinamarquês Daniel Salomon funda a Sennacia Banko, ou «Banco sem nações» em esperanto, através da organização esperantista não oficial Heliko, ou «caracol» em esperanto. Este «banco» na forma de desempenho artístico propõe bilhetes de 100 monoj, denominados em monoj, ou «moeda» em esperanto. Mesmo que essa moeda seja apenas um projeto artístico, os bilhetes de boa qualidade são produzidos por uma impressora de notas na Ásia, mostrando num dos rostos um retrato de Ludwik Lejzer Zamenhof, o criador do esperanto, e noutra um caracol, representando Heliko.

O monero

Logotipo monero O 18 de abril de 2014, uma nova moeda criptográfica é criada na senda do Bitcoin: o monero (ou «moeda», em esperanto). É uma moeda eletrónica descentralizada, basada numa blockchain, ou cadeia de blocos (o livro de conta de todas as transações realizadas), a mesma tecnologia por trás do Bitcoin. Esta moeda tem duas características principais: é anónima (não se pode saber as transações passadas, nem as contas utilizadas, nem o montante trocado), e não é muito gula em recursos computacionais. De fato, para validar as transações concluídas e as registrar nesta cadeia de blocos, o que se chama «minar», deve-se fazer com uma resolução de cálculo recompensadas pela criação de novas unidades monetárias. A mineração é feita diretamente no processador do computador, sem a necessidade de uma máquina dedicada, o que permite que todos participem à experiência e criarem a suas próprias moedas. Em novembro de 2021, um monero vale cerca de 225 euros e a capitalização do monero excede os 4 mil milhões de euros.

Lexicon e formação de palavras em esperanto

Se o monero não estiver afiliado à comunidade esperantista, seu nome é indiscutivelmente esperanto, e é possível a partir dele criar um vocabulário completo usando o sistema dos afixos deste idioma universal.

Em esperanto, a palavra mono, «moeda», é um empréstimo do inglês money. Sua raiz mon- é sufixada por -o, para formar o substantivo. Descobrimos o princípio da criação de vocabulário em esperanto: a adição de morfemas invariables a um radical para expressar um traço gramatical (aqui, o do substantivo, ou nome).

Se adicionarmos o afixo -er, que expressa a singularidade, a individualidade ou a unidade, criamos a palavra monero, «moeda, unidade monetária», também sufixada por -o para fazer um nome.

A marca plural dos substantivos e dos adjetivos é -j em esperanto. Assim, moneroj, plural de monero, significa «moedas, unidades monetárias».

O afixo -uj- expressa a idéia de recipiente. Um portfólio monero, ou wallet, diz-se monerujo.

Para traduzir o conceito de blockchain, podemos considerar que a cadeia de blocos é o lugar (sufixo -ej) onde fica o monero. É, portanto, chamado monerejo.

Quanto ao afixo -ar, para a idéia de grupo ou de coleção, pode ser usado para criar moneraro, a comunidade em torno desta moeda, composta por moneranoj, graças ao afixo -an, «membro». Esta comunidade é composta por moneĉjoj e monenjoj, a partir dos afixos afetuosos -ĉj- (masculino) e -nj- (feminino).

Para indicar uma profissão, um profissional, ou alguém que tenha uma atividade regular, usamos o afixo -ist. Assim, moneristo é um profissional do monero. Mas um desenvolvedor monero será chamado monerigo, aquele que fez algo, indicado pelo afixo -ig.

As pessoas que conservam os moneroj delas, muitas vezes para ver seu valor crescer de forma muito significativa, são chamadas moneringoj, o afixo -ing- expressando a idéia de possuar algo. No jargão das cripto-moedas, também são chamadas HODLers, jogo de palavras baseado num erro de digitação do GameKyuubi em dezembro de 2013 num fórum onde ele explicava a quem quisesse ler que guardar seus criptos é uma opção melhor do que tentar vendê-los e comprá-los de volta para fazer ganhos de capital. Em inglês, to hold significa «segurar, guardar».

A partir deste exemplo baseado num único radical expressando o conceito de moeda, é muito fácil formar toda uma série de palavras graças ao aspecto aglutinante do esperanto e à sua regularidade o que o torna uma língua muito produtiva e fácil de aprender. Sobre se o monero será a próxima moeda da comunidade esperantista, apenas o tempo dirá.